gaveta – Investigação aponta 2 hipóteses sobre desaparecimento de mulher que teria sido atropelada por trem

A busca por um cachorro perdido teria levado um casal a buscar pelo animal na linha férrea do Bairro de Lourdes, durante a madrugada do dia 3 de abril. Quando um trem se aproximou e dois impactos consecutivos foram sentidos na locomotiva operada por um maquinista e seu auxiliar. Após o acidente, porém, nenhuma vítima foi encontrada no local – o que levou a Polícia Civil a abrir um inquérito para apurar os fatos do desaparecimento.  Em entrevista exclusiva à Tribuna, a delegada responsável pelo caso comenta os mistérios e desdobramentos do caso considerado “um acidente atípico”. 

Enquanto o homem, 42 anos, foi visto pelo vigilante da MRS logística mancando sentido ao Bairro Vila Ideal, após o acidente. A mulher, 40, permanece desde então desaparecida – nesta sexta-feira (3), se completa um mês da última vez em que ela foi vista. O homem, considerado suspeito no começo e agora uma das vítimas, apareceu tempo depois e apresentou uma versão à polícia do porquê tinha evadido do local logo após o acidente – não aguardando nem mesmo para ser socorrido. 

De acordo com o depoimento prestado a delegada Karen Hellen Esteves, ele teria ficado com  medo de ser considerado suspeito de ter atentado contra a vida da mulher. O fato também fez com que ele não retornasse para a casa onde ele e a namorada desaparecida moravam, uma vez que familiares da mulher desconfiavam que ele pudesse ter atentado contra a vida dela. 

Conforme apuração da reportagem, o relacionamento entre eles era desarmônico, tendo a mulher relatado em alguns boletins de ocorrência supostas violências do parceiro. Dentre as denúncias feitas por ela contra ele estão lesão corporal e violência psicológica. No dia 15 de fevereiro deste ano, ela tinha realizado um pedido de medida protetiva, que foi encaminhado à Justiça. 

Segundo a filha da mulher, a mãe teria retirado o pedido tempo depois. A Tribuna procurou o Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG) a cerca das medidas protetivas que a mulher teria contra o companheiro, mas foi respondida que  “processos que envolvem violência contra a mulher tramitam em segredo de justiça.”

Apesar disso, a delegada o descartou como suspeito de um possível crime. “As investigações em relação a esse caso, em específico, não indicam que o acidente que estimou essa mulher seja em decorrência de desarmonia conjugal”, explica, conforme acrescenta. “Inicialmente a gente até chegou a cogitar essa hipótese, mas as investigações atualmente indicam que ele não é suspeito”.

Isso porque o homem teria sido visto distante da mulher na linha do trem e o maquinista e seu auxiliar testemunharam que ele estava acenando para que ela saísse dos trilhos, com a proximidade do trem. Também foi descartado que ele pudesse ter colocado um corpo já sem vida ali ou qualquer hipótese neste sentido. Segundo o relato do companheiro da desaparecida, a mulher teria dito a ele que seu coração estava indicando que o cachorro, recém adotado e perdido, estava indo na direção da linha e, por isso, eles estavam no local.

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Ausência de vestígios

As investigações apuraram, ainda, que o homem teria sido atingido pelo trem – em consonância com o que havia sido relatado pelo maquinista, referente aquele primeiro impacto. Ele ficou com lesões bastante visíveis a olho nu, como roxeados extensos próximo as nádegas e também lesionou o pé”, esclarece a delegada karen.

As marcas confirmam que o homem estava de costas para o trem e a lesão no pé também corrobora para ele ter saído mancando do local. Tais informações repassadas pela investigação da polícia são vislumbradas no laudo, que atesta sobre as feridas. Em contraste a isso, no entanto, não há vestígios deixados pela mulher.

O registro de desaparecimento foi feito junto à Polícia Militar na tarde de terça-feira (9), seis dias após o acidente. Durante o andamento das investigações conduzidas pela delegada Karen, o local foi sujeito a análise técnica da perícia. Era a primeira vez, entretanto, que possíveis pistas seriam criteriosamente examinadas.

Isto porque no dia do acidente, a falta de sinais de possíveis vítimas atingidas pelo trem fez com que o delegado de plantão naquela manhã considerasse desnecessário enviar a perícia para o local. Os peritos então não se deslocaram, de acordo com afirmação do Registro de Eventos de Defesa Social (Reds), confeccionado na ocasião.

No retorno ao local do possível atropelamento, não foi encontrado sangue ou vestígios, seja de pele, cabelos ou até mesmo pedaços do corpo como membros decepados. Os elementos que indicam a presença da mulher ali, além das testemunhas, é um tênis – que foi reconhecido pela família como sendo dela.

As duas hipóteses da investigação

Os trabalhos de apuração que ainda estão em curso, de acordo com a delegada Karen, apontam que a mulher possa ter caído no Rio Paraibuna ao ser atingida pelo trem. Em decorrência disso, seu corpo pode ter ficado preso e submerso no local – o que cogitaria a hipótese de sua morte.

Por outro lado, não é certo que isso tenha de fato acontecido, o que abre brecha para a segunda hipótese. Neste caso, a ausência de vestígios de sangue, indicariam que a mulher sobreviveu e foi embora, uma vez que ela já tenha sumido antes e tomava medicamentos, informou a delegada.

 

O que diz família

Já em conversa direta da Tribuna com a filha mais velha da vítima, essa relatou que também acredita que a mãe esteja viva – mas que não tenha desaparecido por vontade própria – algo não confirmado pela investigação.

Segundo a filha, outro episódio de desaparecimento da mãe que já havia ocorrido antes teria durado apenas três dias, mas havia pessoas que sabiam onde ela estava, diferente do que acontece agora. “Os dias vão passando e a esperança vai diminuindo. Nós sabemos que existe a possibilidade para várias coisas”, diz ela, que ainda teme um possível crime – que foi novamente foi descartado pela Polícia Civil.

“Eu não vou sossegar enquanto não acharem a minha mãe” relata a filha preocupada. Segundo conta, elas eram muito próximas e atualmente se sente desamparada “sem a mãe e sem respostas”.

 

Investigação desaparecimento de mulher por atropelamento de trem

O acidente

Era por volta das 6h do dia 3 de abril quando um maquinista relatou ter sentido dois impactos consecutivos no vagão que conduzia, na linha férrea da Avenida Rivelle, no Bairro de Lourdes, na região Sudeste de Juiz de Fora. Ele também indicou ter visto duas pessoas. No local, porém, nenhuma vítima foi encontrada. 

O vigilante da MRS – logística, empresa responsável pelo transporte ferroviário, foi quem acionou a polícia. Era 9h11 quando os militares registraram a ocorrência. Segundo o maquinista e seu auxiliar, eles faziam o trajeto sentido Vila Ideal para o Bairro Poço Rico quando observaram um homem e uma mulher, distantes cerca de 30 metros um do outro, sobre a passagem da linha férrea. 

O homem estaria de costas para o vagão e acenava em direção à mulher. Enquanto isso o trem se aproximava. A buzina, farol, sino e freio de emergência foram acionados, mas eles continuavam ali. Foi neste momento que eles sentiram o primeiro impacto e posteriormente o segundo. Ao direcionarem o olhar para onde aquelas duas pessoas estavam, nenhuma foi vista. 

A Polícia Civil informou que a câmera do vagão estava desligada, o que tornou impossível ter acesso as imagens de segurança. Em contato com a empresa ferroviária, ela informou, porém, que não há câmeras neste trem.

A falta de sinais de possíveis vítimas fizeram com que o delegado de plantão naquele dia não acionasse a perícia técnica. Durante aquela quarta-feira, a equipe do corpo de bombeiros desempenhou buscas pela região ao entorno e dentro do Rio Paraibuna. Segundo o CBMMG à época, a corporação fez contato com o Centro de Operações Policiais Militares para checar se algum desaparecimento havia sido registrado, mas nada nesse sentido constava no sistema.

No dia seguinte, diante das negativas, os trabalhos de buscas dos bombeiros foram suspensos por conta das circunstâncias e as faltas de materialidades. Desde então não houve comunicados sobre a retomada das buscas pelo Rio Paraibuna.

 

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Local do acidente (Foto: Divulgação / Corpo de Bombeiros)

 

Relacionamento conturbado e recente

No início, especulações davam conta que o casal estaria brigando na linha do trem, o que já foi descartado pelas investigações. Embora o homem não seja considerado suspeito de envolvimento no desaparecimento da companheira, conforme aponta as investigações para um acidente. A Tribuna teve acesso aos Boletins de Ocorrências confeccionados pela Polícia Militar que demonstraram uma relação conturbada entre o casal. 

Essas informações não são pertinentes na investigação do desaparecimento, conforme já reiterado pela Polícia Civil. Era o dia 1º de fevereiro de 2024, quando o casal estava há cerca de três meses juntos, segundo relato da mulher, quando fazia uma denúncia contra o homem.

Na mesma data, ele narrou que na época fazia 15 a 20 dias que ele tinha permitido que ela fosse morar com ele em sua residência. Nessa altura, era confeccionado um registro de violência psicológica, em que ele era suspeito. Ela o acusava de ter a esfaqueado e ele negava, falava que a autoria teria partido dela.

A polícia não conseguiu determinar quem falava a verdade, pois, anteriormente, no dia 30 de janeiro, a mulher tinha relatado que ela foi quem havia se auto flagelado, com perfurações que atingiram seu tórax e pulmão. Neste dia, um denúncia anônima levou os militares até o local, ali o caso tinha sido considerado uma tentativa de auto-extermínio.

Uma enfermeira de uma instituição de saúde da cidade, que estava atendendo a mulher, acabou os separou na sala de atendimento, após ver que as perguntas feitas a ela, ele era quem respondia. Ele foi levado a delegacia, por ser considerado suspeito de coagir a mulher a não pedir ajuda ou relatar sua versão. Assim, o caso foi qualificado como violência psicológica, um dia depois, devido aos sinais de uma possível coação. 

No dia 30 de março, outro Registro de Eventos de Defesa Social (Reds) foi feito sobre brigas entre o casal. A polícia realizava um patrulhamento pela região, quando viu o casal na via pública. A mulher estaria “desorientada e com sangramento na cabeça” e o homem ao seu lado. Em primeiro momento a mulher contou à polícia que foi agredida pelo homem, depois, ela relatou já não saber o que havia acontecido. De acordo com a versão do companheiro, eles beberam, discutiram e após as desavenças a mulher correu e caiu no chão.

Depois disso, eles teriam se desencontrado, quando ela retornou a casa que eles moravam, ela já estava com o corte na cabeça. Ele negou ter sido autor da agressão, mas foi preso em flagrante. Já a mulher não foi ouvida posteriormente, pois estava desacordada no hospital. O episódio ocorreu menos de uma semana antes do acidente. 

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