
A Base Exchange, iniciativa da desenvolvedora Flowa — anteriormente conhecida como Americas Trading Group (ATG) — está em vias de se tornar uma nova Bolsa de Valores no Brasil, com proposta de descentralização e foco no participante do mercado. A operação ainda depende de autorizações da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e do Banco Central do Brasil. A expectativa é que a licença definitiva para operar seja concedida no final deste ano ou no início de 2026. A regulamentação exige que, após a autorização, a operação tenha início no prazo de seis meses.
Segundo avaliação da XP Investimentos em relatório, o projeto vem avançando com consistência e poderá alterar de forma relevante o setor de negociação e pós-negociação de ações no país. Mesmo que ainda não esteja autorizada, a Base Exchange já conta com tração entre participantes institucionais, um plano técnico estruturado e financiamento assegurado.
Fundada por Francisco Gurgel, a nova Bolsa de Valores se apresenta como alternativa à B3 (B3SA3), com uma proposta de valor centrada na eficiência, proximidade com o cliente e infraestrutura moderna. A companhia reúne atualmente mais de 150 funcionários, dos quais cerca de dois terços estão diretamente alocados na Base.
A controladora Flowa já é responsável por aproximadamente 10% do volume médio diário negociado (ADTV) da B3, o que, conforme a XP, reforça a experiência da equipe com sistemas de execução e integração no mercado local.
O processo regulatório está em curso há dois anos. De acordo com apuração dos analistas da corretora, a CVM está prestes a iniciar a fase de testes sistêmicos, que inclui simulações operacionais, entrevistas com gestores e validação dos sistemas de governança e tecnologia.
Já o Banco Central ainda está na etapa de análise documental, mas em algum momento os testes das duas autarquias deverão ocorrer de forma simultânea.
Com o intuito de garantir liquidez desde o lançamento, a Base Exchange vem estruturando uma estratégia de mutualização, que prevê a entrada de seis a oito participantes estratégicos em sua base acionária. O grupo deve incluir bancos locais e internacionais, traders de alta frequência (HFTs) e investidores institucionais. Parte do modelo foi testada com um banco brasileiro e uma gestora, simulando a integração, conectividade com o motor de negociação e o ciclo completo de ordens.
A XP também pontua que a empresa está desenvolvendo conectores para os três principais sistemas de pós-negociação usados no país — Sinacor, Dimensa e Inoa — como forma de facilitar a integração com corretoras, especialmente as de modelo de baixo custo. O objetivo, afirmam os estrategistas, é permitir que as corretoras mantenham seus sistemas legados, sem a necessidade de mudanças estruturais, e tenham mais autonomia no processo de execução de ordens, que atualmente ocorre de forma concentrada via B3.
No aspecto de precificação, o modelo da Base Exchange ainda não foi divulgado publicamente, mas é descrito como simples e inspirado no mercado australiano, conhecido por valorizar a diversidade de agentes e a distribuição de incentivos de forma mais horizontal. A avaliação feita pela Flowa é que a estrutura atual da B3 captura parcela excessiva do valor gerado por corretores e gestores, restringindo o potencial de inovação dos participantes.
Em termos de liquidação, a Base Exchange diz que não atuará inicialmente como depositária, mas sua tecnologia foi projetada para permitir ciclos de liquidação mais curtos, como D+1 e D+0, expressões usadas pelo mercado para indicar o prazo de liquidação de uma operação, ou seja, quanto tempo leva entre o momento em que a negociação é feita e o momento em que o dinheiro (ou o ativo) efetivamente troca de mãos. Isso pode beneficiar os participantes por meio da redução de risco sistêmico, diminuição da exigência de garantias e maior eficiência na alocação de capital.
O projeto conta com apoio financeiro do Mubadala, fundo soberano de Abu Dhabi, que participa como investidor de referência. Essa estrutura de capital permite que a Base Exchange suporte os custos recorrentes associados ao longo processo regulatório sem comprometer sua operação.
De acordo com a XP Investimentos, embora a B3 argumente que já enfrenta concorrência de outras bolsas, principalmente internacionais, a entrada de um concorrente local com operação autorizada está se aproximando.
A Base Exchange, segundo os analistas da corretora, já demonstra capacidade de execução e clareza no modelo de negócios, o que tende a atrair liquidez adicional no médio prazo. A casa também avalia que, mesmo com o surgimento de novos participantes, a B3 poderá expandir seus volumes negociados em um contexto de retomada do mercado.
Os estrategistas concordam que a política de precificação da B3 e eventuais ajustes como resposta à nova concorrência permanecem uma variável relevante. O movimento de abertura do setor deve alterar as margens da empresa e a distribuição de valor entre os agentes, ainda que o cronograma regulatório se mantenha como um filtro natural para essa transição.
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