
O desempenho excepcional recente das empresas americanas nas bolsas, interrompido agora por conta da guerra comercial desencadeada pelo tarifaço do governo Trump em todos os países do globo, pode estar ligado diretamente à política fiscal pró-cíclica adotada nos Estados Unidos nos últimos anos.
A avaliação é do economista Gustavo Medeiros, head global de macro research da gestora Ashmore — uma das mais relevantes do mundo em mercados emergentes. Ele trouxe sua visão atual sobre os mercados durante participação no programa Stock Pickers, apresentado por Lucas Collazo e Henrique Esteter.
Medeiros explicou que, ao analisar os dados de lucro por ação (EPS) das empresas americanas desde 1955, disponíveis na plataforma Bloomberg, observou um crescimento médio de 6,6% ao ano até 2017. A partir de 2017, porém, esse crescimento saltou para 9,2% ao ano — um desempenho que ele considera atípico e fortemente impulsionado pelos gastos fiscais extraordinários do governo norte-americano.
Segundo suas estimativas, se o EPS tivesse seguido a média histórica de 6,6% e o mercado operasse no mesmo múltiplo observado no fim de janeiro (25,5 vezes o lucro), o índice S&P 500 estaria em torno de 4.600 pontos — bem abaixo dos 6.100 pontos registrados.
“Essa diferença de valuation representa aproximadamente US$ 13 trilhões — o mesmo montante que o governo americano gastou a mais do que deveria. Isso não se trata de mera coincidência: Faz sentido do ponto de vista macroeconômico.”
Medeiros também contestou a tese de que o desempenho das gigantes de tecnologia — as chamadas Magnificent Seven — seria explicado apenas por avanços tecnológicos. Ele aponta que, mesmo com o crescimento da internet e da inovação desde os anos 1990, o crescimento do EPS não acelerou significativamente até 2017.
Além disso, o percentual da receita dessas empresas vinda do exterior caiu de 55% em 2016 para cerca de 45% em 2024, mesmo com economias como China e Índia crescendo mais que os EUA no período.
“O excepcionalismo americano nos últimos oito anos está mais relacionado ao impulso fiscal do que a fatores estruturais como tecnologia ou rule of law, que já existiam antes.”

Dinâmica não sustentável
Para o estrategista da Ashmore, essa dinâmica não é sustentável. Ele acredita que 2025 marcará o início de uma consolidação fiscal nos Estados Unidos, uma vez que o país não poderá continuar expandindo os gastos públicos indefinidamente sem enfrentar dificuldades de rolagem de dívida.
“Os EUA precisam rolar US$ 10 trilhões por ano. Se não houver sinalização crível de ajuste fiscal, isso pode gerar distorções sérias no mercado.”
Tarifaço de Trump
Sobre tarifas comerciais, o estrategista defendeu uma abordagem pragmática. Ele vê tarifas de até 12% como uma forma eficiente de arrecadação, comparável a um imposto sobre valor agregado (IVA).
“Parte da tarifa é absorvida pelas empresas exportadoras e pela cadeia de valor interna, o que pode tornar o impacto para o consumidor final menor do que um aumento direto de impostos.”
No entanto, alertou que tarifas acima desse patamar podem ser contraproducentes, ao impactar negativamente o PIB e, por consequência, a arrecadação.
A implementação de novas tarifas está prevista para esta terça-feira, dia 9 de abril. Medeiros acredita que os EUA usarão essas tarifas como ferramenta de barganha em negociações internacionais, especialmente com a China, que pode retaliar já no dia seguinte.
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