Israel admite “erros” no massacre de 15 paramédicos palestinos

Vídeo encontrado em celular de um dos paramédicos mortos mostra que ambulâncias e caminhão de bombeiros estavam claramente sinalizados e com luzes de alerta – Foto: AP

Por DW

As Forças de Defesa de Israel (FDI) reconheceram neste domingo (20/04) o que chamaram de “mal-entendidos operacionais” e “erros” que provocaram a morte de 15 palestinos, entre paramédicos, socorristas e pessoal da ONU na Faixa de Gaza no último dia 23 de março.

Segundo as FDI, a “má visibilidade” teria levado o subcomandante de uma brigada a não reconhecer as ambulâncias nas quais os palestinos viajavam. Os israelenses também anunciaram a destituição desse oficial e uma reprimenda ao seu superior. Por outro lado, os israelenses afirmaram que não encontraram evidências de execução na ação.

Um resumo da investigação militar sobre os eventos daquele dia na cidade de Rafah, no sul da Faixa de Gaza, cujas conclusões serão submetidas ao Ministério Público israelense, aponta que foram efetuados vários disparos israelenses contra o comboio dos palestinos, formado por ambulâncias, um carro de bombeiros e um veículo da ONU.

Os veículos transportavam membros do Crescente Vermelho e da Defesa Civil de Gaza. Ainda assim, as FDI ainda insistem em dizer que havia seis membros do Hamas entre os palestinos.

Ataques

O relatório argumenta que houve um primeiro ataque “contra veículos do Hamas” e um segundo – uma hora depois – contra ambulâncias e um carro de bombeiros que estavam se dirigindo ao local. O subcomandante agora destituído avaliou que esses veículos também pertenciam ao Hamas, o que o fez se sentir “ameaçado” e ordenasse que soldados abrissem fogo.

“As tropas abriram fogo contra suspeitos que saíam de um caminhão de bombeiros e ambulâncias muito perto da área onde operavam, após perceberem uma ameaça imediata e tangível. O pessoal de vigilância relatou que cinco veículos se aproximaram rapidamente e pararam perto das tropas, com os passageiros saindo rapidamente”, detalha o documento sobre o comboio médico.

Segundo o relatório, o subcomandante avaliou que os veículos – que estavam devidamente marcados com luzes de emergência, algo que não foi admitido publicamente pelas FDI num primeiro momento – pertenciam ao Hamas e estavam vindo para ajudar seus companheiros.

“Dada essa impressão e sensação de ameaça, ele ordenou que atirassem”, afirma o resumo, culpando a “má visibilidade noturna” pelo fato de o oficial não ter reconhecido inicialmente os veículos como ambulâncias.

“Só mais tarde, após abordá-los e examiná-los, foi descoberto que eles eram de fato equipes de resgate”, completa o relatório.

Um terceiro ataque ocorreu 15 minutos depois, quando um veículo da ONU chegou e também foi alvejado, devido, segundo o documento, a “erros operacionais que violavam os padrões”. Um dos mortos naquele dia era um membro das Nações Unidas.

Funeral dos paramédicos palestinos no final de março – Foto: Reuters

Investigação

Dessa forma, segundo os israelenses, investigação determinou que os disparos nos dois primeiros incidentes foram causados ​​por um mal-entendido operacional por parte das tropas, que acreditavam estar enfrentando uma ameaça tangível de forças inimigas. O terceiro incidente envolveu uma violação de ordens durante um combate.

Os corpos não puderam ser recuperados do local pelas agências afetadas até uma semana depois, quando foram encontrados enterrados na areia ao lado dos veículos destruídos.

A esse respeito, o relatório indica que, na madrugada do dia seguinte ao ataque, “foi decidido recolher e cobrir os corpos para evitar maiores danos e retirar os veículos da estrada em preparação para a evacuação dos civis”, bem como triturar seus veículos, e conclui que este último foi um erro.

“A investigação concluiu que a remoção dos corpos foi razoável dadas as circunstâncias, mas a decisão de triturar os veículos foi equivocada”, destaca o relatório, negando que tenha sido uma tentativa de ocultar o incidente, uma execução ou que os corpos estivessem amarrados.

No entanto, laudos de autópsia dos corpos dos médicos obtidos pelo jornal americano The New York Times nesta semana apontaram que várias das mortes ocorreram por disparos na cabeça ou no peito.

Reação israelense

Entre os socorristas que morreram estavam oito funcionários do Crescente Vermelho Palestino, seis membros da agência de defesa civil de Gaza e um funcionário da agência da ONU para refugiados palestinos (UNRWA, na sigla em inglês).

Num primeiro momento após as mortes se tornarem públicas, Israel passou a insistir que havia “terroristas” nos veículos. No entanto, a pressão contra os israelenses aumentou após a divulgação de imagens registradas pelo celular de um dos socorristas que morreu na ação, que mostravam claramente que os veículos estavam identificados como parte de serviços de emergência. Depois disso, os israelenses moderaram o tom.

À luz dessas descobertas, o Exército decidiu destituir o subcomandante da 14ª Brigada do Batalhão de Reconhecimento Golani “devido às suas responsabilidades como comandante de campo neste incidente e por fornecer um relatório incompleto e impreciso durante o briefing”.

O relatório não explica em o que consiste esse relatório “incompleto”, mas um porta-voz militar reconheceu, dias depois que os corpos foram encontrados, que os soldados no terreno inicialmente forneceram informações errôneas, afirmando que os veículos não tinham as luzes de emergência acesas, uma alegação que foi contradita em um vídeo gravado por um paramédico antes de morrer.

Sobre o subcomandante, autoridades israelenses disseram que se trata de um “soldado altamente respeitado, cujo serviço militar e história pessoal refletem um espírito de combate, voluntariado e grande dedicação”.

O oficial suspenso, detalha o relatório, retornou do exterior após os ataques do Hamas em outubro de 2023 “para servir na reserva, continuou operando em Gaza até ser ferido em combate e retornou ao serviço após sua recuperação”.

O Exército também emitiu uma reprimenda ao comandante da 14ª Brigada “por sua responsabilidade geral no incidente, incluindo procedimentos de combate e a gestão posterior do local depois do ocorrido”.

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