
O ex-ministro dos Direitos Humanos Silvio Almeida afirmou à Polícia Federal, em depoimento prestado em fevereiro deste ano, que está sendo chamado publicamente de estuprador e que pode ser, na verdade, a vítima no caso das acusações de assédio sexual que levaram à sua saída do governo federal em setembro de 2024.
“Estão me chamando de estuprador”, declarou Almeida à delegada responsável pelo inquérito, segundo vídeo obtido pelo UOL e também publicado pela CNN Brasil. O depoimento durou cerca de duas horas e incluiu críticas à atuação da ONG Me Too Brasil, que divulgou publicamente denúncias feitas contra ele.
“Pode ser que eu seja a vítima”, afirmou o ex-ministro, ao argumentar que sua imagem estaria sendo destruída sem que houvesse apuração completa dos fatos.
Almeida questionou a veracidade das denúncias e pediu que a organização complemente as informações levadas à Polícia Federal. “Quais são as denúncias que o Me Too tem contra mim?”, indagou. Segundo ele, a ONG estaria desrespeitando a autoridade policial ao divulgar notas sem checagem de fatos.
Durante o depoimento, Silvio Almeida também reclamou da conduta de uma escrivã, que teria feito um comentário ofensivo enquanto o gravava. “Esse cara é um filho da…”, teria dito a policial. “Estou chocado, indignado, chateado, mas quero justiça”, declarou o ex-ministro.
Almeida foi acusado de assédio sexual por diversas mulheres, incluindo a ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, e a professora universitária Isabel Rodrigues. Segundo a revista Piauí, a primeira denúncia de importunação contra Anielle teria ocorrido em 30 de dezembro de 2022, durante uma reunião presencial. Ele teria feito comentários inapropriados e toques sem consentimento.

Isabel Rodrigues, que também atuava como professora na época, foi uma das primeiras a se manifestar publicamente. Em setembro de 2024, ela denunciou Silvio Almeida por violência sexual, dizendo que ele tocou sua região íntima durante um almoço em São Paulo. “As marcas da violência ainda estão no meu corpo”, relatou Isabel, que afirma ter tratado o caso em terapia e com amigos próximos.
Ela também acusou o ex-ministro de tentar descredibilizá-la publicamente ao insinuar que a denúncia teria motivações políticas, já que ela é pré-candidata a vereadora. “Ele precisa apresentar provas disso à Polícia Federal”, respondeu Isabel.
Silvio Almeida foi exonerado do cargo em setembro de 2024, após uma série de reportagens assinadas por jornalistas como Guilherme Amado revelarem denúncias de assédio. Em fevereiro deste ano, ele usou as redes sociais para dizer que “tentaram matá-lo” politicamente e acusou ONGs de pressionarem instituições estatais de forma indevida.
Ele também atacou publicamente a então colega de governo Anielle Franco, dizendo que ela teria se “perdido em um personagem”. Segundo Almeida, os encontros entre os dois foram breves e isentos de qualquer conduta imprópria.
Apesar das negativas, o caso segue sob investigação na Polícia Federal, que analisa os depoimentos das supostas vítimas e apura possíveis irregularidades na atuação da ONG Me Too Brasil. A organização ainda não se manifestou oficialmente sobre as declarações de Silvio Almeida. O espaço permanece aberto.