Alimentos continuam a pressionar inflação e tomate é vilão do IPCA-15

Governo federal anunciou o lançamento do Plano Safra 2024/2025 (Foto: Estevam Rafael / Secom / PR)

O IPCA-15, a prévia da inflação oficial do país, ficou em 0,43% em abril, dentro das expectativas de mercado, e veio abaixo do dado de março (0,64%), mas o alívio da variação mensal não permite que o Banco Central fique despreocupado em sua reunião no mês que vem. Segundo economistas, várias métricas servem para manter o sinal de alerta aceso. A inflação de alimentos e bebidas, por exemplo, voltou a acelerar.

O preço do tomate, por exemplo, subiu 32,67% no mês, já vindo de uma alta de 12,57% em março. Essa foi a principal alta em abril no grupo “Alimentação no Domicílio”, que avançou de 1,25% para 1,29%. O tomate contribuiu sozinho com 0,08 ponto percentual para o índice geral e com 0,05 p.p. para a aceleração do grupo entre março e abril.

Além disso, o preço do café moído subiu 6,73% e do leite longa vida avançou 2,44%.

Também tiveram aceleração expressiva os ‘Bens industriais’, que passaram de 0,17% para 0,53%, mostrando que o dado anterior mais fraco foi motivado pelos descontos da Semana do Consumidor.

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Por outro lado, o indicador geral recebeu a ajuda dos combustíveis, por conta da queda no preços do petróleo, e do item “Passagens aéreas”, cuja deflação de 14,38%, cortou 0,11 p.p. da inflação do mês, segundo cálculo de Luiz Otávio Leal, economista chefe da G5 Partners. “A boa notícia aqui é que esse resultado se repete, aproximadamente, no IPCA do mês, o que deve impedir que haja alguma revisão dos números fechados para abril após esse resultado ruim”, comentou.

Leal destacou que, todos os dados qualitativos do IPCA-15  também voltaram a acelerar: os “Serviços subjacentes” passaram de 6,24% para 6,42%, a média dos núcleos avançou de 4,72% para 5,00% e os “Bens industriais” foram de 3,38% para 3,92%.

“Resultado após resultado, a análise acaba sendo a mesma: a foto até que não é ruim, mas o filme continua preocupando. Uma forma de ver isso claramente é, mais uma vez, comparando os resultados deste ano com os de 2024, um ano em que a inflação já ficou acima do teto da meta”, disse.

O resultado anunciado de hoje, por exemplo, foi 0,22 p.p. acima do observado no mesmo mês do ano passado (0,21%). “Com isso, a inflação  acumulada no primeiro quadrimestre de 2025 chega a 2,42% contra 1,67% do mesmo período de 2024. Um desempenho nada tranquilizador”, afirmou.

“Os números da inflação corrente mostram que devemos ser cautelosos com essa ‘onda’ de otimismo com relação ao resultado da reunião de maio do BC. Realmente acreditamos que será a última elevação, mas não compramos a ideia de que será uma alta de 0,25 p.p.. Por isso mantemos a nossa percepção de que os juros chegarão a 14,75% a.a.”

Para a XP, o principal desvio para cima em relação à previsão do indicador veio de bens industriais e dos alimentos frescos, enquanto as passagens aéreas surpreenderam no lado das baixas. Mas análise pontuou que esses desvios ante as projeções vieram de itens voláteis, não alterando as premissas para a inflação de 2025.

“Os preços dos alimentos frescos e da carne contribuíram para a surpresa. Em relação aos mais recentes, vemos uma forte aceleração nos preços no atacado, e a guerra comercial pode contribuir para impulsionar seus preços durante o segundo semestre do ano”, diz o texto. Sobre os preços monitorados, foi lembrado que a leitura de abril foi marcada por altas nos produtos farmacêuticos (1%), enquanto os preços da gasolina (-0,3%) e da energia elétrica (-0,1%) registraram deflação no mês, contribuindo para moderar o IPCA-15.

“Ao todo, o IPCA-15 de abril registrou diversas surpresas nos itens voláteis, mas não alterou nossa visão de que a inflação atual ainda está pressionada e não se moderará nos próximos meses”, explicou a XP.

Serviços em nível elevado

Leonardo Costa, economista do ASA, também considerou que o qualitativo do IPCA-15 de abril veio modestamente pior que o esperado, com avanço mais forte nos bens industrializados. “Uma hipótese seria o efeito defasado da desvalorização do câmbio no final de 2025. O núcleo de serviços segue bastante elevado, com pequena desaceleração na média móvel de 3 meses — de 8,2% em março para 7,6% em abril”, afirmou.

O IPCA de abril, atualmente projetado em +0,43%, deve sofrer pequena revisão para baixo pelo ASA, enquanto IPCA de 2025 segue projetado em 5,3%, e o de 2026, em 5,5%.

Na opinião de Gustavo Rostelato, economista da Armor Capital, a divulgação não trouxe mudanças significativas para a perspectiva da inflação do país, porém reforçou a percepção de que o Banco Central deve agir com cautela nas próximas reuniões.

Ao analisar a aceleração dos preços dos alimentos, Carla Argenta, economista-chefe da CM Capital, destacou que o grupo segue pressionado desde o último trimestre do ano de 2024, embora por fatores distintos, cujos motivos estão nos ciclos e dinâmicas dos próprios itens e não no nível de demanda agregada da economia.

“Se no último trimestre de 2024, as proteínas bovinas trouxeram as maiores pressões inflacionárias, nos primeiros meses de 2025, movimento que adentra o segundo trimestre do ano, café, laticínios, aves e ovos e produtos in natura mantiveram a inflação em patamar elevado”, explicou.

Segundo ele, em parte, esse movimento é sustentando pela sazonalidade negativa, além dos ciclos internos dos próprios produtos. “Embora distintos e pulverizados entre os diversos subgrupos de alimentos, esses impactos são pautados por questões alheias à demanda das famílias em maior magnitude.”

Carla Argenta também citou como destaque o grupo de “Saúde e Cuidados Pessoais”, que passou de 0,35% para 0,96% impulsionado, principalmente, pelo reajuste dos medicamentos que é concedido pontualmente no mês de abril. “Por outro lado, os itens livres e que tem pressionado o indicador ao longo dos últimos meses, como é o caso de serviços de saúde, seguem arrefecendo paulatinamente”, disse.

“Os elementos vistos hoje são, na margem, positivos, mas não permitem o esmorecimento da política monetária e sequer configuram um cenário distinto do que o visto nos últimos meses, de modo que a política monetária deve seguir restritiva, mas sem pressão adicional sobre a conjuntura desafiadora amplamente conhecida”, completou.

André Valério, economista sênior do Inter, sobre o IPCA-15, comentou que o núcleo da inflação, medida que exclui os itens mais voláteis, manteve estabilidade frente a março, registrando alta de 0,47%. “A boa notícia é a não reaceleração do indicador, o que manteve a tendência de desaceleração na média móvel de três meses, mas a estabilidade enseja cautela, especialmente porque os indicadores de inflação de serviços também indicam estabilidade em um patamar elevado”, disse.

Ele citou ainda que a inflação de serviços recuou de 0,66% em março para 0,18% em abril, amplamente influenciada pelo recuo de 14% nas passagens aéreas. “Se excluirmos esse item da inflação de serviços, ela teria sido de 0,48%, em linha com a inflação de serviços subjacentes e de serviços intensivos em trabalho, que registraram recuo marginal, com altas de 0,55% e 0,52% em abril, respectivamente. Finalmente, o índice de difusão saltou de 61% em março para 68% em abril, indicando maiores pressões marginais no mês.”

Segundo Valério, o resultado sugere manutenção da tendência observada nos últimos meses. “Por um lado, não se observam indícios de piora na inflação, mas a manutenção em patamar elevado, especialmente do núcleo e dos serviços, sugere cautela. Nesse sentido, não esperamos mudança na condução da política monetária”, comentou.

Ele lembrou que o Copom já antecipou que realizará novo aumento nos juros em sua reunião de maio, mas não especificou a magnitude da alta. “Mantemos nossa visão de que haverá uma alta de 50 pontos-base, que será a última do atual ciclo. Com sinais de desaceleração da atividade, além da expectativa de reversão da inflação de alimentos nos próximos meses, somada à apreciação do real, o aperto monetário atual é mais que suficiente para garantir o controle da inflação ao longo dos próximos trimestres.”

A expectativa de Para Igor Cadilhac, economista do PicPay, por sua vez, é que o Copom eleve a Selic para 15%, com uma próxima alta de 50 pontos-base, seguida por outra de 25 pontos-base — patamar no qual a taxa deve permanecer até o fim do ano.

“Nossa projeção para a inflação em 2025 é de 5,6%. Seguimos vendo um viés altista no balanço de riscos, embora avaliemos que eles estão mais equilibrados do que anteriormente”, afirmou.

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