Atentados de “lobos solitários” combinam motivação política com distúrbios mentais

Francisco Wanderley Luiz, homem-bomba que morreu em frente ao STF. Imagem: reprodução.

Atos de “lobos solitários” – como são chamados autores que organizam e praticam individualmente atentados violentos – combinam problemas psiquiátricos e motivações políticas,  O recente atentado em Brasília, onde Francisco Wanderley Luiz, 59, se explodiu em frente ao STF (Supremo Tribunal Federal) reacendeu o debate.

Aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro classificaram o caso como “fato isolado” motivado por distúrbios mentais, como aponta a Folha de S.Paulo. Contudo, pesquisadores destacam o viés político do ataque, evidenciado nas mensagens de Wanderley contra instituições como o STF e referências ao QAnon e a pautas conspiracionistas.

“É uma tábua de salvação do Bolsonaro e do bolsonarismo, que projetam uma dimensão que eu chamo de patologizante, retirando a dimensão política do ato”, afirma Odilon Caldeira Neto, coordenador do Observatório da Extrema Direita e professor na Universidade Federal de Juiz de Fora (MG), à Folha.

Ele ainda continua, dizendo que os conteúdos que Wanderley compartilhava em suas redes sociais, assim como a escolha do alvo, evidenciam a dimensão política do ato.

Exemplos de postagens do terrorista Francisco Wanderley Luiz em suas redes sociais. Reprodução

A Polícia Federal investiga o caso como terrorismo, embora a legislação atual exclua motivações políticas dessa classificação. Estudos mostram que, em 80% dos atentados de “lobos solitários”, a radicalização tem raízes em queixas pessoais e ideológicas, intensificadas por redes sociais e figuras que inspiram violência.

Wanderley, que já concorreu a vereador, em 2020, teria planejado assassinar o ministro Alexandre de Moraes, como afirmou sua ex-mulher à Polícia Federal. Antes do ataque, falou do ex-presidente norte-americano Donald Trump, fez alusão ao termo “storm”, amplamente utilizado pelo grupo conspiracionista QAnon, e mencionou as crianças da Ilha de Marajó, pauta explorada recentemente pela direita bolsonarista, que denuncia supostos abusos sexuais ali.

Um estudo do FBI que se baseia em 52 ataques de “lobos solitários” desde 1972 revelou uma conexão entre problemas de saúde mental e motivações políticas. Cerca de 25% dos autores já tinham diagnóstico psiquiátrico prévio, enquanto 13% foram diagnosticados após os ataques, e em 38% dos casos havia suspeitas de distúrbios mentais por parte de pessoas próximas.

A radicalização ideológica foi um elemento comum, com muitos agressores aceitando a violência como meio de promover uma causa, sendo o extremismo antigovernamental a ideologia mais frequente, presente em 25% dos casos. Os alvos eram escolhidos de forma estratégica, com 73% dos ataques focados em objetivos centrais às crenças dos infratores, como instalações governamentais, que representaram 17% dos casos.

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