Com Selic e inflação mais altas, mercado aponta para maiores juros reais em 16 anos

A deterioração dos preços dos ativos brasileiros está levando a um aumento significativo nas taxas de juros do mercado. Levando em conta as sinalizações do Banco Central de que a Selic deve ultrapassar os 14% para conter a inflação, isso resultou em uma taxa de juros real ex-ante (descontada a inflação) próxima a 10%. Assim, segundo levantamento do Valor Data, do jornal Valor Econômico, esse é o maior patamar desde outubro de 2008.

O cálculo, que considera o swap de juros de 360 dias e as projeções de inflação do Boletim Focus, indicou uma taxa real de 9,52% na última sexta-feira, após atingir o pico de 10,20% dois dias antes, aponta o cálculo do Valor Data.

A alta do dólar e a desancoragem das expectativas de inflação contribuem para a elevação dos juros. A depreciação cambial pressiona a inflação, demandando uma política monetária mais restritiva.

Juros sobem no Focus

As projeções dos analistas para as principais métricas econômicas voltaram a subir, segundo dados divulgados nesta segunda-feira (23) pelo Relatório Focus do Banco Central.

A mediana das expectativas para a taxa básica de juros ao fim do próximo ano agora é de 14,75%, de 14% na semana anterior.

Já a mediana do relatório Focus para o IPCA de 2025 subiu pela décima semana consecutiva, de 4,60% para 4,84% – acima do teto da meta, de 4,50%.

A previsão para o dólar em 2025 subiu R$ 5,85 para R$ 5,90, enquanto a projeção do PIB passou de 2,01% para 2,02%.

Os juros futuros voltaram a avançar por toda a curva nesta segunda, enquanto o dólar sobe quase 2%.

Meta de inflação

Além disso, o Banco Central divulgará carta aberta em janeiro quando o estouro da meta de inflação de 2024 for confirmado, informou a autarquia à Reuters. O BC já prevê a chance de repetir a atitude em julho, diante das suas atuais projeções para os preços ao consumidor.

Ao subir os juros em 1 ponto percentual, para 12,25%, neste mês, a autoridade monetária já havia previsto inflação de 4,9% este ano – acima da meta oficial de 3%, com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou para menos.

Em seu Relatório Trimestral de Inflação na semana passada, o BC informou que, dada a estimativa, a probabilidade de estouro da meta agora é de 100% para 2024, principalmente pela “depreciação cambial, o ritmo forte de crescimento da atividade econômica e fatores climáticos ou relacionados ao ciclo do boi, em contexto de expectativas de inflação desancoradas e inércia da inflação do ano anterior”.

A partir de 2025 passa a vigorar no Brasil a avaliação do cumprimento da meta num horizonte contínuo, e não mais no ano calendário como até aqui.

As novas regras, que valem a partir de janeiro, estipulam que uma carta aberta e uma nota no Relatório de Política Monetária (antigo Relatório Trimestral de Inflação) serão produzidas se a inflação acumulada em 12 meses ficar por seis meses consecutivos fora do intervalo de tolerância.

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