Condenado a 20 anos de prisão, Dominique Pelicot diz que não vai recorrer

Gisèle Pelicot. Foto: Sarah Meyssonnier/Reuters

“Dominique Pelicot decidiu não recorrer da sentença”, declarou a advogada Béatrice Zavarro. Uma apelação “submeteria Gisèle a uma nova provação, a novos confrontos, que Dominique Pelicot recusa”, acrescentou, especificando que para o seu cliente de 72 anos, “é hora de pôr fim a isso” e que, desde o início do processo, ele “nunca viu a ex-mulher como uma adversária”.

Apesar desta decisão, ainda será realizado um novo julgamento, desta vez perante um tribunal composto por júri popular, já que alguns dos co-réus já entraram com recurso. Segundo Béatrice Zavarro, até agora 17 acusados recorreram das sentenças, mas outros ainda poderão fazê-lo nesta segunda-feira, último dia do prazo para recorrer.

Em 19 de dezembro, um tribunal francês composto por cinco juízes profissionais considerou culpados os 51 acusados – homens entre 27 e 74 anos – a maioria deles julgados pelo estupro agravado de Gisèle Pelicot entre 2011 e 2020. Após quase quatro meses de julgamento, o tribunal proferiu penas que vão desde 20 anos de prisão para Dominique Pelicot até três anos para alguns dos agressores.

Dominique Pelicot nunca negou ter drogado secretamente Gisèle com ansiolíticos entre 2011 e 2020 para fazê-la dormir e estuprá-la com estranhos que recrutava pela internet. Ele ainda pode ser julgado por um outros processos, já que também é suspeito de tentativa de estupro em 1999 na região de Paris, e de estupro e subsequente assassinato de uma corretora imobiliária de 23 anos em Paris, em 1991.

Dominique Pelicot, condenado a 20 anos de prisão pelo tribunal francês. Foto: Reprodução

Gisèle Pelicot “não tem medo”

Gisèle Pelicot, de 72 anos, tornou-se um ícone global na luta contra a violência sexual contra as mulheres por recusar um julgamento a portas fechadas, ao qual tinha direito como vítima. Ela sempre declarou que, ao abrir as portas do processo e expor o ex-marido, queria que “a vergonha mudasse de lado”.

Stéphane Babonneau, um dos seus advogados, disse na semana passada que a sua cliente “não tem medo” de um novo julgamento. Questionado sobre o estado de sua cliente após este emblemático julgamento, Babonneau declarou que Pelicot “está muito feliz por voltar para casa e muito aliviada”.

Segundo o advogado, Gisèle “não quer ser vista como um ícone”. “Na verdade, é alguém que continua muito simples e que decidiu tentar viver a sua vida da forma mais normal possível. A última coisa que ela quer é que outras vítimas pensem que esta mulher tem uma força extraordinária”, insistiu.

Publicado originalmente na RFI

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