Alertas no WhatsApp e lockdown: estratégias de brasileiros para evitar agentes da imigração nos EUA

Agentes da Imigração e Alfândega dos EUA (ICE) entrando em casa
Agentes da Imigração e Alfândega dos EUA (ICE) – Reprodução/BBC

A apreensão entre imigrantes que vivem em situação irregular nos Estados Unidos tem crescido, levando muitos a evitarem sair de casa.

Crianças deixam de frequentar a escola, e grupos de sentinelas monitoram a movimentação dos agentes da Imigração e Alfândega dos EUA (ICE).

Medo constante e monitoramento por aplicativos

Um imigrante brasileiro na Flórida, que preferiu não se identificar, relatou que se informa sobre a ação do ICE por meio de grupos de WhatsApp. “Tem dias que a movimentação policial diminui, mas tem dias que está muito tenso”, afirmou ele ao g1.

Trabalhador da construção civil e pai de dois filhos, ele teme a deportação por estar “sem status”, ou seja, sem permissão legal para permanecer no país. “O ICE já abordou pessoas em frente a um condomínio onde um amigo mora e levou algumas delas”, contou.

O maior receio do imigrante é ser separado dos filhos.

“Se eu for deportado, com quem meus filhos ficarão? Não temos muitos conhecidos de confiança aqui”, lamentou.

Impacto na rotina e apoio de organizações

O gerente de projetos do Brazilian Worker Center, André Simões, confirma que a preocupação tem levado muitas pessoas a ficarem em casa: “A comunidade está com muito medo”, ele diz. “As pessoas não estão indo trabalhar e, como a maioria recebe por hora, isso afeta a economia local”.

Os grupos no WhatsApp se tornaram uma ferramenta essencial para alertas sobre a presença do ICE em determinadas regiões. “Os brasileiros se organizam por condomínios e bairros para compartilhar informações”, acrescentou Simões.

Para ajudar os imigrantes a se prepararem para eventuais abordagens, a entidade promove sessões de orientação chamadas “Know Your Rights” (Conheça Seus Direitos), com participação de advogados: “Temos feito encontros em igrejas, escolas, centros comunitários e até online, porque muitas pessoas têm medo de sair”, diz Simões.

Uma das medidas incentivadas nesses encontros é a assinatura do documento “caregiver update”, permitindo que outra pessoa busque os filhos do imigrante na escola caso ele seja detido.

Crianças também vivem sob tensão

Uma professora brasileira que vive em Massachusetts relata que as crianças também sentem o medo dos pais. “Muitos perguntam: ‘E se o ICE vier aqui? Vocês vão me ajudar? O que vão fazer?’”, compartilhou ela.

Desde a posse de Donald Trump e a implementação de políticas de deportação acelerada, as faltas escolares aumentaram 50%. “Na semana passada, a maioria das crianças imigrantes da minha lista faltou”, revelou a docente.

Agente da Imigração e Alfândega dos EUA (ICE) de costas
Agente da Imigração e Alfândega dos EUA (ICE) – Reprodução

Desinformação e mudanças nas políticas de imigração

A socióloga e organizadora comunitária da Massachusetts Immigrants and Refugees Advocacy Coalition (MIRA) alerta que fake news espalhadas pela internet agravam o medo: “Informes falsos fazem pais evitarem levar os filhos à escola ou comparecerem a consultas médicas”.

Uma preocupação adicional surgiu após a revogação de uma diretriz de 2021 do Departamento de Segurança Interna dos EUA (DHS). A medida proibia que o ICE realizasse prisões em locais protegidos, como escolas e igrejas. “Isso adicionou mais uma camada de medo à comunidade”, observou a socióloga.

Por outro lado, governos locais têm tomado medidas para acalmar os imigrantes: “A prefeita da cidade declarou que as escolas estão fechadas para a ação da polícia imigratória”.

Orientação jurídica e preparação para emergências

O advogado Antônio Massa Viana, especialista em direito imigratório, destacou que algumas informações compartilhadas em grupos podem gerar pânico desnecessário. “Houve um caso em que imigrantes deixaram de enviar os filhos para a escola por conta de um boato sobre drones do ICE sobrevoando a região”, relatou.

Apesar dos riscos, ele enfatiza que nem todos estão sujeitos à deportação imediata: “Há formas de defesa para determinados grupos de imigrantes. O essencial é buscar instituições confiáveis para informação”, diz.

Os encontros promovidos por organizações e entidades religiosas têm ajudado as famílias a se prepararem melhor para situações de emergência. “Ninguém pode prever se será preso pelo ICE, mas é possível planejar como agir, quem cuidará dos filhos e dos bens deixados para trás”, conclui Viana.

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