
As últimas sessões foram de forte pressão para o mercado brasileiro em geral, mas especialmente para empresas de commodities ligadas como as blue chips Petrobras (PETR3;PETR4) e Vale (VALE3), que têm pressionado o Ibovespa em meio ao tarifaço de Donald Trump, presidente dos EUA.
Nas últimas três sessões, as ações ordinárias PETR3 caíram 12,71%, PETR4 teve baixa de 10,81%, enquanto VALE3 caiu menos, mas ainda assim teve baixa de 5,14%.
Só na segunda-feira, os preços do petróleo fecharam em queda de 2%, atingindo uma mínima de quase quatro anos, devido às preocupações de que as últimas tarifas comerciais de Trump possam levar as economias de todo o mundo à recessão e reduzir a demanda global por energia.
Os contratos futuros do Brent caíram US$1,37, ou 2,1%, para fechar a US$64,21 por barril, enquanto os contratos futuros do petróleo West Texas Intermediate dos EUA (WTI) caíram US$1,29, ou 2,1%, a US$ 60,70. Isso empurrou ambos os índices de referência do petróleo, que caíram cerca de 11% na semana passada, para seus menores fechamentos desde abril de 2021.
Já os contratos futuros do minério de ferro caíram pela terceira sessão consecutiva nesta terça-feira, com a escalada das tensões comerciais entre EUA e China contrapondo-se ao suporte da demanda sazonal pelo ingrediente de fabricação de aço durante o período de pico de construção em abril.
O contrato de maio do minério de ferro mais negociado na Bolsa de Mercadorias de Dalian (DCE) da China, caiu 3,15%, terminando em 738,5 iuanes (US$100,73) a tonelada. No início da sessão, os preços atingiram 735,5 iuanes, o menor valor desde 19 de novembro de 2024. Já o minério de ferro de referência de maio na Bolsa de Cingapura recuou 3,14%, para US$94,55 a tonelada.
Para a Petrobras, neste cenário de queda do petróleo, analistas ainda veem pressão para as ações do setor, mas veem a companhia estatal como relativamente mais resiliente.

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Entre as petrolíferas, o Itaú BBA apontou preferir Petrobras, uma vez que ação está sendo negociada com um dividend yield (dividendo sobre o valor da ação) de 13% e a PRIO com um FCFE yield (rendimento do fluxo de caixa livre) de 15%, assumindo que os preços do petróleo permaneçam em US$ 65 por barril pelo resto do ano. Com isso, o banco manteve recomendação de compra para Petrobras PN, com preço-alvo de R$ 49, ao lado de PRIO (PRIO3).
Em outro relatório, o BBA reforçou ver a Petrobras como a posição mais segura para aqueles que desejam manter exposição no setor, dada sua combinação de forte proteção de dividendos e baixa alavancagem. “O rendimento de dividendos ordinários da empresa para 2025 está projetado para ser aproximadamente 12% se os preços do petróleo caírem para US$ 55 por barril, e cerca de 14% se os preços do petróleo permanecerem em US$ 65 por barril”, avalia o banco ao fazer análise de sensibilidade após queda recente de 14% do preço da commodity nas últimas sessões.
A XP Investimentos ressalta também a Petrobras como uma das suas preferidas e não vê tanta alteração na tese de investimentos. Na avaliação da XP, os retornos do FCFE permanecem muito atraentes para a Petrobras, em torno de 12% a 15% com o Brent entre US$ 65 e US$ 70 por barril e vê o valuation como um forte argumento a favor da tese.
A Genial Investimentos aponta que a Petrobras, além de Petroreconcavo (RECV3) e PRIO, possuem fundamentos bons o suficiente para que essas quedas não tragam grandes preocupações para tese das empresas – exceto, claro, um fluxo de caixa menos generoso. “Entretanto, achamos que esse cenário pode trazer algum desconforto aos dividendos da Petrobras, principalmente aos proventos extraordinários em um horizonte de 12 meses”, avalia a equipe de análise.
Na comparação com os pares internacionais, a Genial ressalta o fato de a Petrobras negociar a um patamar de avaliação mais deprimido do que seus pares internacionais privados, o que não chega a ser uma surpresa – afinal, são cases conhecidos pela execução e, principalmente, pela governança.
Contudo, surpreende que ela negocie praticamente em linha até mesmo em relação a pares estatais chinesas. “É importante mencionar que PETR4 oferece fundamentos superiores à maior parte dos pares comparáveis privados ou estatais na maioria dos aspectos que julgamos relevantes na avaliação de uma petroleira”, apontam os analistas da casa. Ainda assim, possuem recomendação de manutenção para PETR4, com preço-alvo de R$ 48.
Em grandes números, a Genial observa a Petrobras entregando fundamentos superiores em relação aos seus pares em termos de geração de caixa, rentabilidade, dividendos, reservas em termos absolutos e anos remanescentes de produção – isso tudo com uma nova fronteira exploratória a ser desbravada, caso as licenças ambientais sejam emitidas.
“Dito isso, consideramos o desconto aplicado à Petrobras como exagerado, e uma reprecificação não deve ser descartada. Em nossa leitura, eleições presidenciais com uma plataforma mais amigável ao mercado e o consequente retorno dos prêmios de risco brasileiros à média devem funcionar como molas propulsoras para a tese de reprecificação da empresa”, avalia a equipe de análise.
O UBS BB também apontou em análise que a Petrobras teve um desempenho melhor do que a maioria das empresas de mercados desenvolvidos na semana passada e também em relação a seus pares da América Latina, mas se igualou a eles nesta segunda-feira. “Embora ainda não tenhamos revisado nossa suposição de preço do petróleo, com o Brent a US$ 65/bbl até o segundo trimestre de 2025-2027 (o que implica uma realização cerca de US$ 5-7/bbl abaixo do nosso caso base), projetamos um fluxo de caixa livre (FCFy) de 7-8% até 2025-27, o que deve limitar o potencial de dividendos da PBR nesse nível, a menos que a empresa aumente sua alavancagem para pagar cerca de 11% em dividendos, considerando a política de 45% do FCF (fluxo de caixa livre”, avalia.
Para os analistas, apesar da queda nos preços do Brent e dos combustíveis, a deterioração da taxa de câmbio compensou a maior parte da queda, e agora estima a paridade de importação em cerca de +8% para a gasolina e de 2% para o diesel. Há potencial para um corte de preços de cerca de 10% na gasolina e 5% no diesel, com pressão contínua do governo, com relatos de que o Ministério de Minas e Energia está argumentando a favor de cortes. “No entanto, destacamos esperar que a Petrobras mantenha os preços por mais tempo até que haja estabilidade nos mercados, a ponto de os preços e a taxa de câmbio se estabilizarem”, aponta o UBS BB.
Cabe destacar que, na última segunda, a estatal perdeu R$ 23 bilhões em valor de mercado com a queda do barril de petróleo, mas também após notícia da CNN Brasil de que o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, teria apresentado à Petrobras argumentos para reduzir o preço dos combustíveis, em especial do diesel, jogando novamente luz ao risco de interferência do governo na companhia. Contudo, Magda Chambriard, CEO da estatal, ressaltou que a companhia não deve alterar preços de combustíveis cobrados na venda a distribuidoras enquanto o cenário estiver turbulento, com incertezas geradas pelo tarifaço do presidente dos Estados Unidos.
O UBS BB segue recomendando compra para as ações da Petrobras, com preço-alvo de R$ 49 por ação PETR3 e PETR4.
“O fato é que, com os preços atuais do petróleo, um novo corte de 5% nos preços da gasolina e do diesel poderia ser justificado; no entanto, a Petrobras tem seu próprio cronograma em sua política de preços. Se os cortes de preços ocorrerem muito cedo, o mercado pode ficar com a impressão de que outros fatores influenciaram a decisão”, avalia o BBI.
De acordo com compilação da Reuters/LSEG com analistas, as 9 casas que cobrem o papel PETR4 possuem recomendação de compra para o ativo, com preço-alvo médio de R$ 45,52 (potencial de alta de 37% frente o último fechamento).
Vale: impacto indireto para as ações
Já no caso da Vale, o Itaú BBA aponta que os preços do minério de ferro caíram 4% (cerca de US$ 4 a tonelada) até a véspera desde o anúncio das novas políticas tarifárias dos EUA, mas ainda assim melhor que outras commodities, como o petróleo.
“Dado que os EUA não são um ator-chave na indústria de minério de ferro, os impactos diretos no equilíbrio do mercado são baixos. No entanto, os potenciais efeitos colaterais de uma guerra comercial mais acentuada – com impactos negativos no crescimento do PIB global e uma possível redução na produção de aço da China – podem levar a um maior nível de cautela por parte dos investidores no setor”, avalia o banco.
Embora acredite que o mercado esteja antecipando uma nova deterioração nos preços do minério de ferro, o desempenho inferior da Vale em relação aos preços do minério de ferro (7 pontos percentuais no período) melhorou a atual relação risco-retorno para as ações.
O impacto direto é limitado, já que os EUA não são um ator-chave no mercado de minério de ferro transportado por via marítima. Por outro lado, os efeitos indiretos são: i) uma redução na produção de aço da China; e ii) um menor crescimento do PIB global, que pode impactar negativamente os futuros preços do minério de ferro.
O banco segue com recomendação outperform (desempenho acima da média, equivalente à compra) para os ADRs (recibo de ações negociados nos EUA) da Vale, com preço-alvo de US$ 13. O BBA avalia a Vale como sua principal escolha, tendo uma avaliação atrativa mesmo em cenários de estresse, além de um bom dividend yield de 12%.
Por outro lado, o BTG Pactual mantém uma visão cautelosa quanto aos fundamentos do mercado de minério de ferro, reiterando a sua projeção de preço médio de US$ 95 a tonelada (t) para 2025.
Apesar de um início de ano com restrições na oferta — impulsionadas por uma temporada de ciclones mais intensa na Austrália e por uma produção mais fraca no Brasil —, o banco projeta uma queda na demanda aparente por aço na China entre 2% e 4% no ano, com as exportações atuando como um “amortecedor” temporário. Contudo, questiona a sustentabilidade dessa dinâmica exportadora no médio prazo.
O minério de ferro segue como a commodity mais exposta ao ciclo econômico chinês, com o país representando cerca de 70% da demanda marítima global. Além de um ambiente global de comércio mais desafiador, o setor imobiliário chinês continua fraco, com o volume de novos lançamentos ainda em queda acima de 20% na base anual, partindo de uma base já deprimida.
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“Esse cenário deve pressionar o balanço entre oferta e demanda, levando a um excesso de oferta mais evidente até o final de 2025. Nesse contexto, esperamos uma correção adicional nos preços do minério de ferro, com o mercado migrando para a faixa de US$ 90/t na segunda metade do ano. Para 2026, nossa estimativa — US$ 85/t, abaixo do consenso de mercado — reflete uma expectativa de produção ainda menor de aço bruto na China e a esperada entrada em operação do projeto Simandou, embora reconheçamos as incertezas quanto ao cronograma de execução”, avalia. Assim, diante desse cenário, mantém recomendação cautelosa para Vale (VALE3), assim como para CSN (CSNA3) e CSN Mineração (CMIN3), dada sua alta correlação com os preços do minério de ferro e a dependência estrutural da demanda chinesa.
A XP também aponta que, em relação ao minério de ferro, as tarifas relativas mais altas para a China e países asiáticos poderiam elevar os riscos associados às tendências gerais de exportação na China. “Dito isso, esperamos impactos eventuais nas exportações de aço diretas (limitadas) e indiretas (mais importantes) da China, o que pode implicar uma produção de aço marginalmente mais baixa (a maior parte composta por altos-fornos). Portanto, vemos implicações potencialmente negativas para a Vale”, aponta a equipe de análise, assim como vê implicações para CSN Mineração.
Segundo compilação da Reuters, de 17 casas de análise que cobrem o papel, 8 possuem recomendação de compra para VALE3 e 9 possuem recomendação de manutenção e um preço-alvo médio de R$ 78,66, ou alta de 51% frente o último fechamento.
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