Casos Mercado Livre e soja dos EUA mostram os riscos de misturar política com negócios

Lula de perfil cumprimentando funcionárias no Centro de Distribuição do Mercado Livre, as três pessoas sorrindo
Lula em visita ao Centro de Distribuição do Mercado Livre, em Cajamar (SP) – Reprodução/X

Num mundo cada vez mais polarizado, a mistura entre política ideológica e decisões econômicas tem se tornado uma armadilha perigosa — tanto para países quanto para seus cidadãos. Os casos recentes nos Estados Unidos e no Brasil mostram, de forma quase didática, como decisões motivadas por alinhamentos políticos e ideológicos, quando aplicadas a relações econômicas e comerciais, podem ter efeitos devastadores.

O caso da soja nos EUA: o preço da guerra ideológica

Durante o governo Donald Trump, uma das principais frentes da política externa tem sido a guerra tarifária com a China. O objetivo é forçar o gigante asiático a recuar em práticas comerciais consideradas desleais. O problema? Em meio ao jogo geopolítico, os produtores de soja norte-americanos — tradicionalmente aliados do Partido Republicano — se viram como dano colateral. A China, até então o maior comprador da soja dos EUA, simplesmente está trocando de fornecedor, escolhendo o Brasil.

A resposta veio rápido e foi dura: produtores americanos temem uma queda brutal nas exportações, acúmulo de estoques e perdas bilionárias. Os próprios fazendeiros, que em muitos casos haviam apoiado Trump, passaram a alertar sobre o risco de colapso generalizado no setor. O episódio deixou claro: quando se sacrifica a racionalidade econômica em nome da retórica ideológica, quem paga a conta são os trabalhadores, os empresários e a economia como um todo.

Brasil repete o erro: boicotar o próprio crescimento

Corta para o Brasil.

O Mercado Livre, gigante do comércio eletrônico na América Latina, anuncia um investimento recorde de R$ 34 bilhões no país — 48% a mais do que no ano anterior. Uma notícia que, em qualquer cenário racional, deveria ser comemorada. Afinal, trata-se de geração de empregos, movimentação da economia e expansão da infraestrutura logística.

Mas não foi o que aconteceu.

O presidente dos EUA, Donald Trump, está levando o negócio de seus apoiadores ao colapso. Foto: REUTERS/Nathan Howard

Bolsonaristas, incomodados com a visita do presidente Lula ao centro de distribuição da empresa em Cajamar (SP), iniciaram uma campanha de boicote à plataforma. O motivo? O simples fato de Lula ter vestido o uniforme da empresa e participado do anúncio de investimentos ao lado de ministros.

A contradição salta aos olhos: ao boicotar uma empresa nacional em expansão por conta da presença de um presidente eleito democraticamente, esses manifestantes estão prejudicando não um político, mas trabalhadores, consumidores e a própria economia que dizem querer proteger. É como queimar a plantação para protestar contra a chuva.

A lição que ninguém parece querer aprender

Tanto nos Estados Unidos quanto no Brasil, a lição é clara: ideologia pode ganhar voto, mas não gera emprego. Política pública precisa ser feita com base em dados, impactos sociais e resultados concretos — e não na guerra de narrativas.

Quando um país fecha mercados por conta de disputas ideológicas, ou quando seus cidadãos tentam “punir” empresas por interagirem com o governo, o resultado é sempre o mesmo: menos crescimento, menos empregos e mais radicalização.

Negócios não devem ser reféns de bandeiras partidárias. Quando isso acontece, quem perde é o país inteiro.

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