Deputados ajudam suspeito de matar Marielle, mas não vão livrá-lo da Papuda. Por Leonardo Sakamoto

O deputado federal Chiquinho Brazão. (Foto: Reprodução)

Por Leonardo Sakamoto

Sempre há um chinelo velho para um pé cansado. Obedecendo ao ditado, um grupo de colegas conseguiu adiar a análise pela Câmara da prisão do deputado federal Chiquinho Brazão, suspeito de ser mandante da execução da vereadora Marielle Franco e de seu motorista Anderson Gomes em 2018. O pai da ideia, Gilson Marques (Novo-SC), reclamou de “pressa” para avaliar o caso.

Ironicamente, a reclamação ecoa críticas que nós, jornalistas, ouvimos nos últimos seis anos de pessoas envolvidas na investigação da morte de Marielle no Rio. Que o crime era complexo, que a sociedade precisava entender que a polícia estava se esforçando, que as coisas não podiam ser feitas com pressa, nem no “afogadilho” — outro termo usado por Marques.

Só agora, com a entrada da Polícia Federal na investigação e a consequente revelação dos mandantes, é que descobrimos que além de Chiquinho e de seu irmão, o conselheiro do Tribunal de Contas do Estado do Rio, Domingos Brazão, também estava envolvido o então chefe da Polícia Civil Rivaldo Barbosa. Além de ajudar no planejamento do crime, ele também teria sido pago para impedir que a investigação chegasse a quem ordenou a coisa toda. Ou seja, a lentidão era um plano, não incompetência.

É direito dos parlamentares pedirem vistas. O problema é a argumentação, uma vez que o caso demanda uma resposta rápida à sociedade. Aliaram-se à posição de Gilson Marques no pedido de adiamento os deputados Fausto Pinato (PP-SP) e Roberto Duarte Jr. (Republicanos-AC).

A Comissão de Constituição de Justiça teria 72 horas para validar ou não a prisão de Chiquinho, ocorrida no último domingo (24). Caso isso não ocorra, o presidente Arthur Lira (PP-AL) pode levar o caso diretamente ao plenário. Dai, serão necessários 257 votos dos 513 deputados para autorizar a prisão.

Arthur Lira. (Foto: Reprodução)

Se isso não acontecer nesta semana, os advogados de Chiquinho podem ir ao STF e argumentar por sua soltura. Mas é mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha do que o ministro relator do caso, Alexandre de Moraes, atender a esse pedido.

A decisão seria levada para a turma no STF, mas também é difícil imaginar que eles colocariam na rua alguém apontado como protagonista do principal crime político do Brasil atual, um crime que demorou seis anos para ser desvendado, fato que envergonhou o país diante de seu povo e do mundo. Ainda mais com a chance de ele se escafeder. Com Supremo, com tornozeleira eletrônica, com tudo.

Portanto, ele deve permanecer na Papuda até que seus colegas se dignem a votar sua situação.

O adiamento mostra que ele conta com apoio na casa. Mas qual o tamanho do apoio explícito? Como a consulta é pública, os deputados estarão sob outras vistas, as dos eleitores. E quem vai querer reeleger alguém que passou pano para suspeito de assassinato?

Originalmente publicado na coluna de Leonardo Sakamoto, no Uol

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