Doença de Parkinson ainda é subnotificada em pessoas jovens

Nesta quinta-feira (11) é comemorado o Dia Mundial de Conscientização da Doença de Parkinson, a segunda patologia degenerativa, crônica e progressiva do sistema nervoso central mais frequente no mundo, atrás apenas do Alzheimer. A doença afeta os movimentos do corpo devido à redução na produção de dopamina, um neurotransmissor que é responsável pelo controle motor. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), existem aproximadamente 4 milhões de pessoas no mundo com Parkinson, o que representa 1% da população mundial a partir dos 65 anos e 6% aos 85 anos. Os dados estimam que 200 mil brasileiros tenham a doença, que ainda é subnotificada entre as pessoas mais jovens.

Contudo, um estudo realizado em Bambuí, cidade do interior de Minas Gerais, mostrou que a prevalência da doença em pessoas com mais de 60 anos é em torno de 3%. Como o censo de 2022 mostrou que o Brasil tem mais de 32 milhões de pessoas com mais de 60 anos, acredita-se que temos hoje no país mais de 1 milhão de pessoas com doença de Parkinson com mais de 60 anos. Além disso, segundo explica o neurologista do Hospital Universitário da Universidade Federal de Juiz de Fora (HU-UFJF), Daniel Sabino de Oliveira, de 10% a 20% dos pacientes com Parkinson são diagnosticados antes dos 50 anos, e aproximadamente metade desse número, com menos de 40 anos, considerado como “início precoce”. No entanto, podem ocorrer casos até mesmo na casa dos 20 e dos 30 anos, sendo conhecida como de “início jovem”. Um caso muito conhecido é o do ator Michael J Fox, astro do filme “De volta para o futuro”, que teve o diagnóstico no início da década de 1990, quando tinha 29 anos.

Subnotificação do Parkinson

WhatsApp Image 2024 04 10 at 07.47.33
Aos 48 anos, Danielle Lanzer vive com Parkinson há mais de dez anos (Foto: Arquivo pessoal)

As estatísticas e ações sobre a doença de Parkinson concentram-se na terceira idade, gerando desconhecimento e subnotificação de casos. Mas, no caso da cientista aposentada Danielle Lanzer, o primeiro sintoma surgiu aos 30 anos, quando começou a sentir uma vibração na mão esquerda logo após uma cirurgia de apendicite. Demorou seis anos para ter o diagnóstico correto de Parkinson, passando por muitos exames e diagnósticos incorretos, como tumor no cérebro, tremor essencial, depressão e até suspeita de doença de Wilson (distúrbio do metabolismo de cobre). “Quando detectou a doença eu já estava tomada por sintomas. Eu tinha muitas dificuldades para o autocuidado, por não conseguir lavar meu cabelo sozinha nem escovar os dentes, além da dificuldade de vestir algumas peças de roupas. Coisas básicas, não conseguia fazer, o que foi me causando depressão”, relata.

Para ela, aceitar a doença não foi fácil, e se adaptar diariamente é uma luta. “Eu escondia isso de todo mundo. Sentia-me inferior pela minha dificuldade. Tinha receio de ser excluída do meio. O diagnóstico para mim foi o fim. Saí do consultório em choque, perdida, vagando pelo hospital. Só chorava. Fiquei um mês sem aceitar que eu tinha Parkinson.” Hoje, aos 48 anos, Danielle é idealizadora da página no Instagram “Vibrar com Parkinson”, com mais de 13 mil seguidores. Nas redes sociais, ela conta sobre os desafios de sua rotina e adaptação, através da ciência e de uma terapia musical, mesmo sendo um dos sintomas da doença a dificuldade com os tremores na fala.

De acordo com o médico Daniel Sabino, os dados revelam que essas pessoas mais jovens viverão mais tempo com a doença, e consequentemente haverá maior consumo de medicamentos, maior utilização dos serviços de saúde e mais hospitalizações a longo prazo. Além disso, ele pontuou que pacientes mais jovens muitas vezes deixam de produzir, pois param de trabalhar, a família passa a ter mais gastos, o que deveria ser uma preocupação do Governo com as políticas públicas. “Eventualmente podem deixar de pagar um plano de saúde, vão gerar maior consumo de recursos do estado e uma maior sobrecarga do Sistema Único de Saúde (SUS).”

Sintomas e tratamentos do Parkinson 

Segundo o neurologista do HU, o Parkinson tem sintomas relacionados ao movimento – chamados sintomas motores – e outros não motores. Os sintomas motores são os mais conhecidos, como o tremor (que aparece principalmente quando o indivíduo acometido está em repouso) e a rigidez muscular e a lentidão dos movimentos (bradicinesia). Outro sintoma motor que pode ou não estar presente é o desequilíbrio, que pode causar quedas. Daniel também ressalta que nem sempre todos esses sintomas estão presentes, uma vez que é frequente que pessoas com Parkinson não apresentem tremores no início da doença e isso pode atrasar o diagnóstico. Os sintomas não motores são muito frequentes e os principais são constipação intestinal, distúrbios do sono, como o Transtorno Comportamental do Sono (REM), diminuição do olfato (hiposmia), ansiedade e depressão.

Em geral, pacientes mais jovens têm sintomas semelhantes aos pacientes mais idosos, mas têm menos problemas de memória e confusão mental, e a doença também tem uma tendência a uma evolução um pouco mais lenta. No entanto, eles podem ter mais movimentos involuntários relacionados ao tratamento, que precisa ser individualizado. O neurologista alerta que as pessoas devem procurar atendimento médico ao notar os sintomas para receberem um tratamento adequado, a partir do diagnóstico clínico ou através de exames de ressonância do cérebro, a fim de manter sua produtividade e ter mais qualidade de vida.

Daniel também explica que existe o tratamento medicamentoso, o não medicamentoso e o cirúrgico. “Geralmente em fases iniciais da doença, utilizamos o tratamento medicamentoso de acordo com os sintomas que mais incomodam o paciente. Mas, associado a isso, é muito importante que a pessoa tenha uma vida ativa, praticando atividades físicas, principalmente aeróbica, e se alimentando de forma saudável.” Além disso, quando é indicado, é muito importante que se associe ao tratamento medicamentoso a fisioterapia, terapia ocupacional e até mesmo acompanhamento fonoaudiológico. Já o tratamento cirúrgico envolve a implantação de um marcapasso nas regiões do cérebro onde ocorre o controle dos movimentos. “Esse marcapasso gera uma corrente elétrica que simula a presença da dopamina, fazendo com que haja um melhor controle motor, melhorando os sintomas”, conta o médico.

Políticas públicas para pessoas com Parkinson

Uma das políticas públicas que auxiliam os pacientes com Parkinson é o Protocolo Clínico de Diretrizes Terapêuticas. Produzido pelo Ministério da Saúde em 2010, ele contém informações sobre diagnóstico, tratamento e fornecimento de medicamentos de alto custo, como o Levodopa, pelo Estado. Essa portaria atesta a importância dessa doença na população idosa brasileira pelo Governo federal, sendo um dos marcos legais para a orientação das ações no campo do envelhecimento, mas ainda não tem um enfoque nos pacientes jovens.

Muitos benefícios e direitos são assegurados às pessoas com Parkinson e, muitas vezes, são desconhecidos pelos próprios pacientes e familiares, e também pelos profissionais que lhes acompanham e que podem contribuir para melhorar sua condição e qualidade de vida. Os pacientes têm direito a receber auxílio-doença e um acréscimo de 25% na aposentadoria pela Previdência Social quando o paciente necessita de cuidados permanentes, como um cuidador por período integral. Mas para isso é necessário que haja uma perícia do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) para comprovação dos fatos. Os pacientes podem usufruir de todos os benefícios que a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência assegura, desde que haja avaliação da deficiência, realizada por equipe multiprofissional e interdisciplinar, quando necessário. 

Também há amparo social no valor de um salário mínimo, desde que a renda familiar mensal (per capita) seja inferior a um quarto do salário mínimo. Ainda é possível obter isenção do imposto de renda dos rendimentos que sejam relativos à aposentadoria, pensão ou reforma (outros rendimentos não são isentos), incluindo a complementação recebida de entidade privada e a pensão alimentícia, recebidos por portadores da DP, além da isenção de 30% de impostos para compra de veículos. Em São Paulo, os parkinsonianos que comprovarem renda de um salário mínimo podem viajar de um estado a outro de ônibus, trem ou barco, sem pagar passagem intermunicipal. 

*Estagiária sob supervisão do editor Wendell Guiducci

O post Doença de Parkinson ainda é subnotificada em pessoas jovens apareceu primeiro em Tribuna de Minas.

Adicionar aos favoritos o Link permanente.