“O que fazer agora?” A questão de investidores após forte impacto com tarifa da China

Painel de cotações da B3, em São Paulo

Os mercados globais, desta vez incluindo o Brasil, caem forte após a China anunciar um pacote de retaliações às tarifas impostas pelos Estados Unidos sob o governo de Donald Trump.

A China contra-atacou com tarifas recíprocas de 34%, restrição de exportações de sete tipos de metais raros diferentes, e também controle sobre importações e exportações.

Na quarta-feira, Trump aplicou uma tarifa de 10% sobre a maioria das importações dos EUA (incluindo o Brasil) e taxas muito mais altas sobre dezenas de países, erguendo as maiores barreiras comerciais em mais de 100 anos.

“É uma espécie de [concretização do] pior medo sobre o rumo que o programa tarifário está tomando”, disse Rick Meckler, sócio da Cherry Lane Investments, um escritório de investimentos familiar em New Vernon, Nova Jersey.

“Para os investidores que tinham certeza de que era apenas uma negociação — embora isso ainda possa ser verdade em algum momento — a situação está se aprofundando muito mais nos detalhes e se tornando mais perigosa para as empresas.”

Preocupações com uma recessão global fizeram os preços do petróleo nos EUA caírem 8%, enquanto os investidores correram para a segurança dos títulos do governo norte-americano, colocando as taxas em forte baixa, e os operadores aumentaram as apostas em cortes de juros pelo Federal Reserve e por outros grandes bancos centrais.

“Os impactos econômicos ainda são muito incertos, especialmente considerando que pode não ser o fim desse vai e vem de tarifas”, avalia Henrique Vasconcellos, sócio da Nord Research e analista da casa.

A tensão crescente entre as duas maiores economias do mundo acendeu o alerta entre investidores, refletindo em perdas acentuadas nas bolsas internacionais. O principal receio é que haja uma escalada ainda maior envolvendo outros blocos econômicos, avalia Vasconcellos.

“O mercado está enxergando e precificando uma guerra tarifária global. Em uma escala muito maior do que foi no primeiro mandato do Trump com a guerra comercial contra a China”, aponta o analista.

Com isso, investidores mantinham o movimento da véspera, fugindo de ativos mais arriscados e buscando segurança, como títulos governamentais e metais preciosos.

Não são apenas os mercados de ações que sentiram o impacto. As taxas de juros de 10 anos dos EUA também despencavam. O mercado já passa a precificar cortes de 100 pontos percentuais para os juros do Banco Central americano no ano.

A resposta do mercado ao anúncio do Trump foi clara. Com essas medidas, haverá pressão sobre a inflação e atrapalhar o crescimento. “Um cenário de estagflação. Péssimo para a criação de valor no mundo”, aponta o analista da Nord.

O que fazer?

Vasconcellos, da Nord, aponta que ainda pesam inúmeras dúvidas a respeito de como será o desenvolvimento e as respostas a essas medidas. “Veremos países negociando tarifas mais amenas, enquanto outros optarão por uma retaliação”, aponta o analista.

Ele aponta que, para quem quer surfar horizontes de investimentos mais curtos, a melhor maneira é ir acompanhando essas respostas e focar onde os impactos serão menores. Ou focar em setores onde a demanda é inelástica e os custos serão repassados para o consumidor americano.

“Para quem tem um horizonte de investimento de mais longo prazo, não vejo muito valor em ficar tentando acertar em qual lado da narrativa tentar mergulhar. O mandato dura quatro anos e essas tarifas podem ser descontinuadas a qualquer momento dentro desse período”, aponta o analista.

Em relatório de estratégia, a Rico Investimentos ressalta que, diante do cenário de incerteza, a recomendação é que os investidores mantenham uma carteira balanceada, capaz de navegar por diferentes cenários. “Apesar do ambiente turbulento, dados mostram que aqueles que demonstram resiliência podem ser recompensados com retornos significativos a longo prazo”, avalia a equipe de análise.

A Rico aponta que os dias de maiores altas da Bolsa ocorreram justamente durante períodos de crise e incertezas, como a crise do subprime em 2008 e a pandemia de COVID-19 em 2020. “Portanto, aqueles que conseguiram equilibrar suas carteiras nesses momentos críticos puderam aproveitar os retornos a longo prazo”, avalia.

Em relatório em que apontou os possíveis impactos positivos e negativos das tarifas de Trump, os estrategistas da XP reforçaram a carteira de ações chamada “cesta XP de tarifas dos EUA”, que conta com 6 nomes: de SLC Agrícola (SLCE3), BrasilAgro (AGRO3), Gerdau (GGBR4), Aura Minerals (AURA33), Unipar (UNIP6) e Rumo (RAIL3).

Cesta de tarifas dos EUA (Imagem: XP Investimentos)

Neste mesmo sentido, o JPMorgan ressaltou ver a Rumo como uma potencial beneficiária em meio às relações comerciais cada vez mais tensas entre os Estados Unidos e a China.

“Como dois dos maiores exportadores mundiais de grãos como soja e milho, o Brasil e os EUA foram responsáveis ​​por 39% e 27% das exportações mundiais de grãos em 2024, respectivamente. Caso o conflito comercial aumente, impactando potencialmente as exportações de grãos dos EUA para a China, o Brasil pode ganhar como um provável fornecedor alternativo. Uma tendência semelhante foi observada durante o primeiro governo do presidente Trump, embora reconheçamos que o lado positivo atual pode ser um tanto limitado devido ao aumento significativo nas importações chinesas do Brasil desde então, particularmente em milho”, avalia o banco.

Apesar disso, o JPMorgan avalia que a Rumo está estrategicamente posicionada para capitalizar esse potencial vento favorável, seguindo overweight (exposição acima da média, equivalente à compra) para os ativos.

(com Reuters e Estadão Conteúdo)

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